Eis o Cordeiro de Deus

João Batista pode ser considerado o último profeta, assim respondeu aos sacerdotes e levitas quando da pergunta "Quem és tu?":
Eu sou a voz que clama no deserto: Endireitai o caminho do Senhor.
Eu batizo com água, mas no meio de vós está quem vós não conheceis.
Esse é quem vem depois de mim; e eu não sou digno de lhe desatar a correia do calçado.


Depois disso, enquanto batizava nas águas do Jordão e Jesus foi ao seu encontro, proclamou:
Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo.

No primeiro capítulo do Evangelho segundo São João, a sentença "Eis o Cordeiro de Deus" é proclamada duas vezes por João Batista. Essa frase, que num primeiro momento pode nos parecer estranha ou sem sentido, tem um sendido profundo e faz a ligação entre o Antigo e o Novo testamento.

Para compreender melhor o sentido pelo qual Jesus torna-se o Cordeiro de Deus, é necessário recorrer ao Antigo Testamento. Vamos ao livro do Exodo, que conta a história de Moisés, que recebeu de Deus a missão de tirar os hebreus da Escravidão do Egito. O Senhor falou a Moisés e a Aarão, e deu-lhes a ordem de irem ter com o faraó, o rei do Egito, a fim de tirarem da terra do Egito os filhos de Israel. Como o faraó se recusara a libertar os Hebreus, Deus estendeu a sua mão sobre o Egito, permitiu que Moisés e Aarão ordenassem as 10 pragas do Egito:
  • Sob os olhos do faraó e de sua gente, Aarão levantou sua vara e feriu a água do Nilo, que se mudou toda em sangue. Morreram os peixes do Nilo, e o rio tornou-se tão infecto que os egípcios não podiam beber de suas águas. Houve sangue em todo o Egito.

  • O Nilo ferverá de rãs que subirão para invadir tua habitação, teu quarto, teu leito, as casas de teu povo, os teus fornos e tuas amassadeiras.  Aarão levantou a mão sobre as águas do Egito, e as rãs subiram e cobriram a terra.

  • Levanta a tua vara e fere o pó da terra: ele se converterá em mosquitos em todo o Egito. Aarão estendeu a mão com sua vara, e feriu o p da terra: houve mosquitos sobre os homens e os animais. Toda a poeira da terra se transformou em mosquitos em todo o Egito.

  • Mandarei moscas sobre tua pessoa, tua gente, teu povo, tuas casas: as casas dos egípcios serão todas invadidas por elas, bem como a terra em que moram. Assim fez o Senhor: surgiu na casa do faraó, e na de sua gente, uma multidão de moscas, e todo o Egito foi devastado pelas moscas.

  • A mão do Senhor vai pesar sobre os teus animais que estão nos campos, sobre os cavalos, os jumentos, os camelos, os bois e as ovelhas: haverá uma peste terrível. O Senhor cumpriu sua palavra: todos os animais dos egípcios pereceram, mas não morreu um animal sequer dos rebanhos dos israelistas.

  • Haverá em todo o Egito, sobre os homens e sobre os animais, tumores que se arrebatarão em úlceras.

  • Farei cair uma chuva de pedras tão violenta como nunca houve outra igual no Egito, desde sua origem até o dia de hoje. Caiu granizo misturado com fogo; e caiu com tanta violência como nunca houve semelhante em todo o Egito, desde que veio a ser uma nação.

  • Farei vir amanhã gafanhotos sobre o teu território. Cobrirão a superfície da terra de tal modo que se não poderá mais ver o solo. Devorarão o resto das colheitas que escapou ao granizo, e devorarão todas as árvores de vossos campos.

  • “Estende a mão para o céu, e que se formem sobre todo o Egito trevas tão espessas que se possam apalpar.” Moisés estendeu a mão para o céu, e durante três dias espessas trevas cobriram todo o Egito.

  • Eis o que diz o Senhor: pela meia-noite passarei através do Egito, e morrerá todo primogênito na terra do Egito, desde o primogênito do faraó, que deveria assentar-se no seu trono, até o primogênito do escravo que faz girar a mó, assim como todo primogênito dos animais.

Essa última praga foi precedida pela instituição da Páscoa dos Judeus, que se deu da seguinte maneira:
Cada família tomará um cordeiro sem defeito, macho, e o imolará no crepúsculo.
Tu não levarás nada de sua carne para fora da casa e não lhe quebrarás osso algum. Tomarão do seu sangue e pô-lo-ão sobre as duas ombreiras e sobre a verga da porta das casas em que o comerem. “Naquela noite, passarei através do Egito, e ferirei os primogênitos no Egito, tanto os dos homens como os dos animais, e exercerei minha justiça contra todos os deuses do Egito. Eu sou o Senhor. O sangue sobre as casas em que habitais vos servirá de sinal de proteção: vendo o sangue, passarei adiante, e não sereis atingidos pelo flagelo destruidor, quando eu ferir o Egito. Conservareis a memória daquele dia, celebrando-o com uma festa em honra do Senhor: fareis isso de geração em geração, pois é uma instituição perpétua. E quando vossos filhos vos disserem: que significa esse rito? respondereis: É o sacrifício da Páscoa, em honra do Senhor que, ferindo os egípcios, passou por cima das casas dos israelitas no Egito e preservou nossas casas.”
Os Judeus até hoje celebram a Páscoa da maneira descrita acima. (Ex 12)

O Antigo Testamento narra a história do povo de Deus, os descendentes de Abraão.
Ali se apresenta toda uma pedagogia, talvez hoje incompreensível, que serviu para preparar a chegada do Messias. A pedadogia de Deus para dar-se a conhecer a um povo politeísta, escravizado, nômade, se tomada ao pé da letra torna-se incomprensível.

O Novo Testamento apresenta esse mesmo Deus, agora de uma forma mais próxima. Deus se apresentava, quando da travessia pelo deserto, de dia como numa coluna de nuvens para guiá-los pelo caminho; e de noite numa coluna de fogo para alumiá-los. Agora Jesus nos apresenta a face do Pai, do Deus de misericórdia.

Já não são mais necessários sacrifícios, rituais, cordeiros imolados.
Cristo, o Cordeiro de Deus foi imolado num sacrifício único e perpétuo.
O sangue derramado na cruz subsitui o sangue dos cordeiros sobre a verga das portas.

A passagem da morte para a vida, a ressurreição de Cristo.
Eis o Cordeiro de Deus, eis a Páscoa dos Cristãos.

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